Bruno Carneiro e Pedreira 1
As pastagens para produção pecuária são a principal fonte de alimento para animais em pastejo no mundo (Michalk et al., 2019) e a maior classe de uso da terra no planeta (~3,5 bilhões de ha) (Lambin & Meyfroidt, 2011). As pastagens são responsáveis por produzir alimentos para animais e humanos (indiretamente), além de outros tantos produtos agrícolas que proporcionam inúmeros benefícios à sociedade. Nesse cenário, somos fundamentalmente dependentes desses benefícios, os quais denominamos de serviços ecossistêmicos e definidos como “a vasta gama de benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas” (Sollenberger, 2015).
Quatro são as categorias em que dividimos os serviços ecossistêmicos (Millenium Ecosystem Assessment, 2005): cultural, provisionamento, suporte e regulação (Tabela 1). Serviços culturais promovem benefícios recreativos, estéticos e espirituais; serviços de provisão incluem alimentação, água, madeira, e fibra, e dentro do contexto de pastagens, os produtos de origem animal que são utilizados como fonte de alimento; enquanto serviços de regulação são aqueles que afetam clima, enchentes, doenças, resíduos e qualidade da água; e serviços de suporte são aqueles que englobam fatores como formação do solo, fotossíntese, ciclagem de nutrientes (Sollenberger, 2015).
No entanto, apenas recentemente, começamos a entender as pastagens como fornecedoras de produtos importantes para a sociedade, o que inclui a forragem produzida para alimentar os animais. Isso resulta na produção de alimentos de origem animal destinados ao consumo humano (carne e leite), contribuindo com o atendimento da demanda global de alimentos e com a geração de outros produtos de origem animal (lã, medicamentos, cosméticos, couro, etc.).
No Brasil, os sistemas de produção pecuário têm como principal forma de alimentação as pastagens, as quais na sua maioria apresentam algum estágio de degradação ou se encontram abaixo do potencial de produção (Dias-Filho, 2015), e recebem pouco ou nenhum aporte de corretivos e fertilizantes. Esse cenário limita o potencial de geração de serviços ecossistêmicos. No entanto, nos últimos anos, um amplo esforço de pesquisa vem sendo feito para auxiliar produtores na otimização da produção de forragem, ciclagem de nutrientes via palhada e excrementos dos animais, fixação de nitrogênio, habitat para garantir biodiversidade, manejo de pastagens e, por fim, aumentar a produção pecuária.
Pastagens bem manejadas podem contribuir recarregando as bacias hidrográficas, filtrando a água à medida que se move pelo solo, garantindo a conservação e evitando a degradação dos nossos solos. A manutenção da cobertura vegetal e a diversidade de espécies nas pastagens auxiliam na minimização da erosão do solo, lixiviação de nutrientes para as águas subterrâneas e escoamento para as águas superficiais. Ainda ajudam a aumentar a matéria orgânica do solo e a reter mais água e nutrientes no solo.
Os ecossistemas de pastagens também são capazes de oferecer benefícios que nem sempre levamos em consideração, como os benefícios não materiais para as pessoas: recreação ao ar livre, observação da vida selvagem, fotografia, manutenção de estilos de vida tradicionais, realização espiritual e projetos de pesquisa e educação.
Portanto, as pessoas, especialmente os apreciadores da natureza, podem ser atraídas para visitar fazendas e desfrutar de atividades recreativas, como a observação de pássaros, por exemplo. Essa categoria de serviços ecossistêmicos ainda é muito pouco explorada economicamente no Brasil.
Em geral, as pastagens são grandes fornecedoras de serviços ecossistêmicos e por isso, é premente a busca por sistemas que sejam mais eficientes na utilização dos recursos, com menor emissão de GEE, maior aporte de C e N no solo, e com foco na manutenção de pastagens produtivas. Sistemas de produção pautados em pastagens recuperadas e adequadamente manejadas possuem reconhecidos potenciais de sequestro de carbono e mitigação dos GEE, devido à elevada produção de forragem, maior eficiência no uso de fertilizantes nitrogenados e ao acúmulo de matéria orgânica no solo (Sollenberger et al., 2019).
Nos próximos anos, à medida em que haja o reconhecimento pela sociedade, será preciso encontrar uma maneira de valorar os serviços e compensar os produtores por essa prestação.
De Groot et al. (2012), estimando serviços de ecossistemas em escala global, calcularam que o valor médio de uma variedade de serviços nas pastagens era de U$ 4.605 por hectare/ano [convertidos em dólares de 2017 por Hodges et al. (2019)].
Seguindo essa mesma lógica, o Brasil, com 163 milhões de hectares de pastagens destinados à indústria pecuária (ABIEC, 2019), teria o potencial de gerar mais de U$ 750 bilhões/ano em serviços ecossistêmicos. Esse montante oferece uma perspectiva de valor dos serviços ecossistêmicos para a sociedade e para os pecuaristas, indicando o potencial que ainda há em melhorar os ecossistemas de pastagens para promover uma indústria pecuária cada vez mais sustentável.
Referências
ABIEC. 2019. Perfil da pecuária no Brasil. Beef Rep.: 47. http://www.abiec.com.br/controle/uploads/arquivos/sumario2019portugues.pdf (accessed 20 August 2019).
Dias-Filho, M.B. 2015. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. 4th ed. Edição do autor (MBDF).
de Groot, R., L. Brander, S. van der Ploeg, R. Costanza, F. Bernard, et al. 2012. Global estimates of the value of ecosystems and their services in monetary units. Ecosyst. Serv. 1(1): 50–61. doi: 10.1016/j.ecoser.2012.07.005.
Hodges, A.W., C.D. Court, M. Rahmani, and C.A. Stair. 2019. Economic Contributions of Beef and Dairy Cattle and Allied Industries in Florida in 2017. Gainesville, FL.
Lambin, E.F., and P. Meyfroidt. 2011. Global land use change, economic globalization, and the looming land scarcity. Proc. Natl. Acad. Sci. 108(9): 3465–3472. doi: 10.1073/pnas.1100480108.
Michalk, D.L., D.R. Kemp, W.B. Badgery, J. Wu, Y. Zhang, et al. 2019. Sustainability and future food security—A global perspective for livestock production. L. Degrad. Dev. 30(5): 561–573. doi: 10.1002/ldr.3217.
Millenium Ecosystem Assessment. 2005. Ecosystems and Human Well-being: Synthesis. Island Press, Washington, DC.
Sollenberger, L.E. 2014. Changing emphases in soil-plant-animal research in pastures. Procedings of Brazilian Society of Animal Science Meeting. SBZ, Viçosa, MG. p. 1–38
Sollenberger, L.E. 2015. Challenges, opportunities, and applications of grazing research. Crop Sci. 55(6): 2540–2549. doi: 10.2135/cropsci2015.02.0070.
Sollenberger, L.E., M.M. Kohmann, J.C.B. Dubeux, and M.L. Silveira. 2019. Grassland management affects delivery of regulating and supporting ecosystem services. Crop Sci. 59: 1–19. doi: 10.2135/cropsci2018.09.0594.
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